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Norton de Matos em grande entrevista.

O nosso treinador, Luis Norton de Matos deu ontem uma grande entrevista ao síto sportugal.pt, em que respondeu a muitas e variadíssimas questões do cibernautas. É uma entrevista muito interessante que tem a especialidade de muitas das questões que foram colocadas serem feitas por adeptos logo havendo grande frontalidade. Como tem declarações muito importanyes resolvemos publica-la na integra.
Boa leitura.



"Qual a sensação de representar um clube como Vitória de Guimarães?
Alberto Leite – Guimarães

É uma sensação de grande alegria e prestígio, é uma equipa que qualquer treinador gostaria de orientar. Evidentemente que seria
melhor estarmos na Liga. Esta massa associativa merece estar entre os maiores. Há um risco que decorre do facto da equipa ter de subir mesmo à Liga, mas há uma enorme satisfação em estar aqui em Guimarães.

Como classifica o Vitória de Guimarães como clube no panorama futebolístico nacional, e qual o futuro que antevê?
José Marinho – Guimarães

No panorama futebolístico, o Vitória de Guimarães é, indubitavelmente, um dos grandes clubes em Portugal. Pela sua massa associativa, é seguramente, o quarto clube, a seguir aos três grandes. Pelo seu prestígio, temos de enquadrá-lo no quadro de honra do futebol nacional. Com as dificuldades que existem, o Vitória, ultrapassada a fase de descida, tem tudo para construir um futuro ainda mais risonho. Este clube tem de pensar sempre em grande em termos futuros.

A
credita mesmo que alguns dos jogadores que foram contratados como grandes 'craques', ou com muito valor, ainda irão mostrar o porquê dessas contratações? Porque não jogar com um defesa direito que não é nativo nessa posição, visto que as últimas performances dos nossos defesas direitos têm sido, na minha opinião, uma desgraça? Se me permite, sugeria o Moreno. João Marques, Caldas das Taipas – Guimarães
Não veio nenhum jogador rotulado de grande ‘craque’. Foram contratados jogadores que, na nossa opinião, serviam os interesses do Vitória na Liga de Honra. Uns demoraram mais tempo d
o que outros a adaptarem-se, a lidarem com a pressão de ganhar, de quase não poder falhar. Isso condiciona bastante o rendimento de um jogador. Aliás, na época passada, houve grandes contratações e o Vitória não conseguiu evitar uma descida. Os jogadores desta época foram contratados numa linha de lógica preço/qualidade dentro do orçamento estipulado. O balanço faz-se no final. Não há ninguém que tenha o condão de acertar em tudo e que os jogadores cheguem aqui e façam tudo. Uns podem render mais do que outros.
Porquê a admiração pelos escalões secundários do futebol francês? Esperava tão forte contestação com apenas três jornadas do campeonato? Porque é que jogadores como Pintassilgo ou Zezinho com qualidade reconhecida e com experiência de Liga de Honra foram dispensados em detrimento de jogadores de escalões secundários franceses sem conhecimento da realidade portuguesa e de qualidade duvidosa? Pedro Manuel -Guimarães

Para mim, os escalões secundários do futebol francês têm o maior viveiro da Europa, em relação à qualidade futebolística dos jogadores. Sempre tive jogadores pertencentes a essas divisões, porque têm uma cultura muito grande de futebol, pois adaptam-se facilmente. Evidentemente que, quando não há desaires no início de um campeonato, tudo é posto em causa! Quanto à contestação, quando se perde como se perdeu na Póvoa de Varzim e não conseguimos recuperar nas jornadas seguintes, é evidente que ela tem que existir, porque a paixão e a expectativa são grandes e os sócios têm razão para manifestarem esse desencanto, esse descontentamento que não é mais do que o nosso. Para mim, foi uma grande desilusão ter, à quarta jornada, três derrotas. Mas temos de reagir, ainda estamos no primeiro terço do campeonato e, se Deus quiser, conseguiremos atingir os objectivos. Relativamente aos jogadores que refere, há escolhas, há opções que serão sempre contestadas. O Pintassilgo e o Zezinho são jogadores que, pertencendo ao Vitória e fazendo uma época fora de Guimarães, poderão ter lugar no Vitória num futuro próximo. No início da época, tínhamos o Flávio, o Svärd, o Moreno, Ghilas, o Otacílio, Desmarets, além do Pelé. Portanto, não era fácil o espaço de manobra para eles… Quando não se ganha, toda a gente tem o direito de fazer as suas perguntas, mas nós também temos as nossas razões.

O plantel e a equipa técnica estão conscientes da existência de só uma possibilidade nesta época desportiva, que passa pela subida de divisão?
João Pacheco – Guimarães
Só há uma possibilidade: subir de divisão. Sei que esta é uma época de risco e por isso mesmo defendo que é muito mais fácil manter uma equipa na Liga do que subir um clube da ‘Honra’ ao escalão principal, onde há um equilíbrio muito grande e uma adaptação completamente diferente. Mas sei que não tenho outra saída… apesar de isto não ser matemática. Com nove jogos feitos, está tudo em aberto e o futuro só pode ser mais risonho, pois também vamos adquirindo mais experiência nesta competição.
Pensa reforçar a equipa em Janeiro ou tenciona manter este plantel até fim da temporada? Patrick Ribeiro – Paris, França

Há abertura do presidente para procedermos a eventuais contratações, mas até Dezembro ainda faltam cinco jogos e depois logo se verá. Nessa altura, iremos fazer um balanço. Por enquanto, conto com estes jogadores.
Tenho algumas questões que acho pertinentes: Porque razão, num momento altamente complicado (falo obviamente da derrota em Moscavide), não teve coragem de dar a cara perante os jornalistas e enviou para a conferência de imprensa Basílio Marques? Porque não acompanhou a equipa no regresso a Guimarães, sabendo que o ambiente estava de "cortar à faca", e preferiu ficar em Lisboa, na sua residência? Carlos Ribeiro – Guimarães (sócio nº 4261)

Infelizmente, sofremos uma derrota. Nessa semana, tínhamos combinado que seria o Basílio a falar antes do jogo e, portanto, falaria também depois de jogo. Portanto, não foi uma situação de fuga, porque eu nunca fugi e dei sempre a cara. Quanto a ficar em Lisboa, obviamente que estando a trabalhar ininterruptamente em Guimarães desde Julho, tinha decidido – atempadamente – ficar em Lisboa, independentemente de saber qual seria a carreira da equipa até então. Além disso, na segunda-feira tinha assuntos para tratar no fisco e outros assuntos particulares que forçavam a minha presença em Lisboa. Além de tudo isto, sou pai e tenho três filhos em Lisboa, portanto, sou um ser humano! Não houve aqui nenhuma fuga, apenas programação. Por exemplo, vamos jogar a Mafra e vou aproveitar para ficar lá em baixo para ver a minha neta. Sou um ser humano e não um robot, que tem de estar onde as pessoas querem que esteja à hora e no local que achem que é necessário. Sou eu que programo a minha vida e a minha vida não é programada em função de vitórias ou derrotas.

Como responde ao boato de que é empresário de alguns dos jogadores do plantel? Confirma ou desmente?
Carlos Ribeiro – Guimarães (sócio nº 4261)

A minha resposta está na pergunta que faz: um boato. Muitas vezes os boatos são repetidos e são feit
os de forma negativa para denegrir as pessoas. As únicas contas que tenho que dar são ao presidente do clube e às pessoas com quem os jogadores fizeram contrato. O que posso dizer é que nenhum jogador que veio para Guimarães teve qualquer tipo de compensação ou comissão empresarial. Nunca fui, não sou, nem serei empresário de jogadores, porque não é essa a minha função. Infelizmente, vivemos num país em que os boatos circulam e ninguém consegue fugir a eles… Na época transacta muitos jogadores infringiram o regulamente interno do clube, através das "habituais" saídas nocturnas.

Esta época, o mesmo já sucedeu, como muitos saberão. Os jogadores em questão foram castigados devidamente? A equipa técnica não soube? Pode dar-nos as garantias que tal não voltará a suceder?
Carlos Ribeiro – Guimarães (sócio nº 4261)

Ninguém consegue dar garantias que os jogadores possam ou não saírem! Cada um é dono da sua vida e tem liberdade para fazer. Não sei o que se passou na época passada; quanto a esta temporada, conhecemos muita coisa, os assuntos são internos, é bom que os assuntos sejam resolvidos dentro do clube, e o que lhe posso dizer é que sou um defensor intransigente da disciplina e de tudo o que é do regulamento interno do clube. Posso garantir, apenas, que não h
á nenhum jogador impune dentro do plantel. A resposta está dada.

Como é a sua relação com o presidente? Acha que ele acompanha devidamente a equipa e sente que o mesmo mostra pulso forte quando é preciso?
Carlos Ribeiro – Guimarães (sócio nº 4261)

Não conhecia o presidente até me ter feito o honroso convite. Acho que se trata de um presidente bastante presente, estando bem acompanhado por pessoas que sentem a vida do clube. Acho que, nos grandes clubes, o presidente não tem que estar todos os dias no treino ou no balneário. E o Vitória é um grande clube. Portanto, o presidente tem que aparecer quando é preciso e a sua intervenção tem que ser firme quando aparece. Nesse sentido, penso que o presidente tem estado presente, acompanha a equipa, tem mostrado pulso forte em relação ao grupo. Só tenho a dizer bem da minha relação com ele.

Tem sentido a pressão de ser treinador do V. Guimarães? É mais fácil ou mais difícil orientar esta equipa, relativamente ao V. Setúbal, por exemplo? Carlos Alberto - Geraz do Lima


É mais difícil. Enquanto em Setúbal a minha luta era para não descer de divisão, ou seja, não havia a necessidade imperativa de ganhar jogo a jogo, logo a pressão era diferente, já em Guimarães, há uma pressão contínua, até porque a massa associativa é muito maior. Há muito mais gente presente nos treinos e nos jogos do que em Setúbal. Depois, há um desencanto grande com a descida de divisão, o que propicia um clima de maior pressão, de menor margem de erro, porque ainda há pessoas que não acreditam que o Vitória caiu na Liga de Honra. É muito complicado gerir isso! Neste momento, o V. Guimarães é o Benfica da Liga de Honra a quem toda a gente quer ganhar. Conhecemos as equipas todas com as palmas das nossas mãos e, quando jogam contra nós, têm 50% mais de entrega. Essa é uma grande dificuldade. Em Setúbal, não tinha a obrigação de ganhar jogos e, como fui ganhando, fomos subindo na tabela como acontece hoje com o Domingos (U. Leiria), o Rogério Gonçalves (Naval)…

O Vitória é conhecido por ter sempre uma falange de apoio enorme em qualquer campo que jogue. Considera este facto positivo? Ou o facto de aumentar níveis de pressão nos jogadores pode também ser negativo como por exemplo se viu na Póvoa do Varzim? Boa sorte para o Vitória e para o Norton de Matos, que eu muito aprecio como treinador e que espero um dia ver a treinar o FC Porto. Pedro Pinto – Vila Nova de Gaia

É óptimo para um treinador e para os jogadores ter a falange de apoio que o Vitória tem. Posso dizer que é arrepiante! Quando temos vitórias, somos levados ao colo e esse apoio é fantástico. Quando perdemos na Póvoa ou com o Penafiel, em casa, é natural que há excessos tendo em conta o amor e a paixão que devotam. São os jogadores que têm de levar o Vitória para a Lig
a. Por exemplo, empatamos com o Feirense e fomos aplaudidos. Isso é um factor positivo. O verdadeiro adepto é aquele que dá apoio à equipa, mesmo nas circunstâncias adversas. Os sócios do Vitória têm os lemas “nós somos únicos” e “nunca caminharás só”. Isso são muitas coisas importadas das massas associativas inglesas, onde há um verdadeiro espírito, quando os jogadores dão o litro e empatam ou perdem um jogo. Isso não pode ser interpretado como uma catástrofe! Estou de acordo com a crítica quando não há entrega ou quando há laxismo. Por exemplo, quando se falha um penalty a um minuto do final do jogo. De quem é a culpa? Do treinador? Do jogador? Nós treinamos isso todos os dias, tratam-se de acidentes do futebol… Foi um óptimo sinal termos ganho ao Santa Clara nos últimos quinze minutos, porque os sócios estiveram sempre connosco. Fomos ao Gil Vicente e, apesar de estarmos a perder por 1-0, estiveram também sempre connosco. Em Matosinhos, igualmente….

Começa a haver uma identificação maior entre aquilo que nós pretendemos na Liga de Honra e a própria filosofia dos sócios. Como explica a pouca utilização de jogadores como Targino e Moreno, jovens valores que brilharam num passado recente na Liga e até foram cobiçados pelos “grandes”? Luís Feiteira - Samora Correia

O Moreno, infelizmente, foi expulso duas vezes nos primeiros três jogos, ou seja, perdeu dois jogos por castigo. No entanto, é um jogador a ter em linha de conta, pois está no plantel. Como disse há pouco, as contas fazem-se no fim. No Sporting, por exemplo, o Nani está agora no banco. Os treinadores colocam os melhores em campo e não são masoquistas. O Targino, com espaço em campo, é um jogador fantástico; com menos espaço, tem mais dificuldade. Tudo isto passa por um processo de assimilação de métodos de trabalho… Eu não tenho onze titulares, eu tenho o plante todo titular. No final, iremos ver a utilização deles, se foi muita ou pouca.

Enquanto não existiu decisão final sobre o “caso Mateus”, manteve alguma esperança de ver o Vitória subir à Liga? Como avaliou a decisão tomada de fazer descer o Gil Vicente, uma equipa que, desportivamente, garantiu a manutenção entre os “grandes” do futebol português? Tânia Jacinto – Alcobaça

Nunca pensei que a equipa do V. Guimarães pudesse subir à Liga, só num cenário de alargamento. Quanto ao resto, não tinha grandes esperanças. Em relação ao Gil Vicente, todo o processo é mal conduzido desde o princípio. O clube inscreveu um jogador como amador e não podia tê-lo feito, mas eu pergunto: quem autorizou a sua inscrição? Se houve logo uma decisão, o problema morria logo à partida. Se é amador, não podia ser inscrito! Como isso não aconteceu, o Gil foi penalizado, apesar de ter cometido uma irregularidade. Para mim, os campeonatos ganham-se nos campos e não nas secretarias. É com pesar que vejo o Gil Vicente na Liga de Honra, depois de ter conseguido brilhantemente a manutenção. Se se confirmarem os pontos negativos, o Gil Vicente ainda está neste momento com quatro pontos negativos. Em princípio, apenas lhe vão permitir lutar – e só – para conquistar pontos, de modo a não descer de divisão.

Se no final do campeonato o Vitória e a sua equipa técnica tiverem cumprido com o objectivo (subida de divisão) e tiver em carteira boas propostas de outros clubes, qual vai ser a sua decisão? Pensa permanecer em Guimarães? Fernando Rodrigues – Guimarães

Absolutamente! Se o objectivo for conseguido, gostava muito de continuar com o trabalho. Sinto-me bem aqui, tenho sido muito bem tratado em Guimarães, pelo clube, pelas pessoas da cidade e, portanto, não tenho em ideia sair, porque acabei um campeonato. Sei que tenho um compromisso de um ano. Só posso pensar em continuar, subindo! Será um passo atrás na minha carreira e uma grande derrota profissional, se não conseguir subir o V. Guimarães. Se puder continuar o meu trabalho, sim senhor, estou disponível, pois é isso que pretendo neste momento! Um convite de um grande? As pessoas podem vacilar, mas sinceramente, neste momento, o meu gosto é continuar. Tendo em conta as condições de trabalho que oferece e tudo o que gira à volta do Vitória, qualquer treinador gostaria de estar em Guimarães.

Atendendo à grandeza humana do nosso clube e infra-estruturas existentes, conhecendo a realidade interna do clube em termos de estrutura profissional e directiva, pensa ser possível fazer do Vitória campeão nacional da Liga a médio prazo?
Paulo César Mendes, S. Martinho de Sande (sócio n.º 5716)

Por história, em Portugal, só houve cinco campeões nacionais, Nos últimos trinta anos, tirando a excepção esporádica do Boavista, os campeonatos são sempre distribuídos por Benfica, Sporting e Porto. Se é possível? Claro que sim, embora tenhamos de ver a realidade nacional, porque existe um conjunto de circunstâncias para, a médio prazo, um clube consiga intrometer-se nos grandes. O Belenenses foi campeão na década 50 e só decorridos mais 50 anos é que o Boavista foi campeão… Na actual realidade, é muito difícil os clubes competirem com o poderio financeiro dos três grandes. Mas não há impossíveis!

Como admirador da sua maneira de estar no futebol e das suas capacidades desportivas, gostava de saber como consegue unir um balneário que está habituado a andar nos grandes palcos do futebol nacional. Como se consegue unir um balneário? Obrigado e felicidades para a sua carreira! Filipe Lima - Viana do Castelo

Hoje em dia, um treinador, além das suas qualidades de treino, tem de saber gerir emoções, jogadores e saber liderar. Os treinadores têm de saber viver com o binómio liderança/gestão. Tem muito a ver com critério de justiça nas opções que se tomam. Hoje em dia, o jogador quer saber a verdade nos olhos e, mesmo que tome decisões que não lhe agradem, tem de sentir confiança, que o treinador não promove injustiça. O pior que pode haver em qualquer ramo profissional é uma pessoa sentir que o seu trabalho está a ser injustiçado! Eu tenho uma maneira muito própria de gerir grupos de futebol, de unir balneários…

Os jogadores gostam de sentir que há coerência!
Na sua opinião qual o contributo para o futebol dos novos comentadores de televisão, que têm um vocabulário indecifrável, cheio de termos técnicos como "o bloqueamento da segunda fase de construção de jogo" ou "a inexistência de subdinâmicas para o aparecimento de movimentos de ruptura"? Luís Carlos - Beja

A linguagem deve ser simples e quem fala em rádio ou na televisão tem que ter a noção que está a falar para o povo e para as pessoas perceberem. Às vezes, há uma intelectualidade que se quer colocar no comentário que só vai criar confusão na cabeça das pessoas. O futebol é simples. Eu já comentei muitos jogos e tento que a minha linguagem seja perceptível, porque as pessoas estão com os media para perceberem um pouco mais. Por exemplo, quando estou a ver ciclismo gosto muito de ouvir os comentários do Marco Chagas, porque efectivamente ficamos a perceber um pouco mais o que é a modalidade. O papel de um comentador, sobretudo quando foi futebolista, deve contribuir para a valorização da modalidade, dispensando-se as filosofias.

Hoje em dia fala-se muito na operacionalização de treino, sendo Mourinho o mentor desta nova arte de treinar, mas tudo isso é feito noutras modalidades como o basquetebol há mais de quarenta anos. Como explica esse atraso metodológico em relação a outras modalidades, colocando o futebol na cauda do treino desportivo? Emanuel Guerreiro, Faro

Um treinador de andebol ou basquetebol está ligado às modalidades muito mais cedo. O processo de entrada da parte científica de treino no futebol demorou mais tempo a realizar. No meu tempo, falar de um preparador-físico num treino era falar do diabo! Nas outras modalidades, não era assim que sucedia, daí o atraso do futebol em relação a outras modalidades.


Porque é que no seu tempo falharam tantas contratações (caras) de sul americanos para o Sporting? Por exemplo: Kmet; Hanuch; Gimenez; Sente que falhou, a nível pessoal? Segunda questão: Porque falhou a Foot (revista)? Luís Moreira, Lisboa

Vamos por partes. Hanuch não tem a ver comigo, porque não estava no Sporting. Kmet foi uma transferência cara, num contexto totalmente da responsabilidade de Jozic, que treinou na Argentina o Newell's Old Boys. Quando falámos na primeira vez em Roma do reforço do plantel, falámos em três nomes que ele sugeriu: o Quiroga, o Ducher e o Kmet. Os dois primeiros eu conhecia muito bem da Selecção, mas o Kmet eu não o conhecia. O erro que cometi na altura foi não ter ido ver o Kmet jogar ao vivo. Não o fiz. Confiou-se no Jozic e acabei por ser co-responsável. Eu percebi, depois, por que razão o treinador foi buscar o Kmet. O Jozic era treinador do Newell's e nos dois jogos que fez com o Kmet ele apontou três golos de 30 metros. O ponto forte dele era o remate, mas era um jogador caro e lento para o futebol português. O Gimenez foi contratado quando tinha 20 anos e estava às portas da Selecção A. Fez um campeonato extraordinário, era muito jovem, veio para Portugal, mas a adaptação não correu bem, porque teve problemas com a namorada, que estava grávida e não queria casar. Mas recordo que acabou por ser vendido por uma soma superior em relação àquela que o Sporting pagou. Depois foi para o México e foi o melhor marcador do campeonato. Às vezes, tem que se dar tempo. Por exemplo, o Rodrigo Tello, sozinho, custou o valor destes três jogadores juntos e só passados quatro anos é que está a jogar no Sporting. Isto do falhar tem sempre uma história e eu não falhei a nível pessoal. Em relação à Foot, falhou essencialmente por razões económicas. Foi uma revista que, no princípio, era minha, mas quando foi necessário oxigénio/dinheiro, eu vendi a minha quota e fiquei apenas como director. A revista passou, posteriormente, para a órbita da Interpress. Esta não quis fazer alguns melhoramentos necessários (plastificação, melhoramento de papel…) e a Foot começou a ser feita apenas por dois jornalistas. Perdeu qualidade, vendas e dinheiro… Era um barco muito pesado! Tive muita pena, porque não consegui chegar ao número 100, depois de estar sete anos à frente da revista, quando muita gente previa que a Foot não duraria um ano.

Qual a sua impressão da passagem pelo Salgueiros e do posterior descalabro que ditou o fim do futebol profissional?
Hugo Miguel Ferreira Marinho - Costa de Caparica

Sinto uma grande tristeza, porque gostei imenso de trabalhar no Salgueiros, um clube onde fui bem tratado e onde passei por muitas dificuldades, juntamente com os jogadores. Fizemos um campeonato bom. Foi um grande choque quando o Salgueiros acabou, não só por ter trabalhado lá, mas também por ser um emblema mítico. Além disso, a história da minha família está ligada ao General Norton de Matos, pois foi o clube que abriu as portas, em 1949, para uma manifestação de apoio e perseguido na época salazarista por causa disso. Portanto, é um clube que me diz muito sentimentalmente.

Qual é o seu clube do coração? Aceitaria, caso ele existisse, um convite do Benfica para exercer um cargo que não fosse o de treinador? Ser director desportivo do Benfica, por exemplo... Luís Correia – Odivelas

Em toda a minha infância, eu era benfiquista muito por influência do José Águas. Nunca fui sócio, não perdia um jogo e no colégio jogava com uma camisola encarnada. A partir do momento em que comecei a ter uma carreira profissional, deixei de ter vínculos. Não sou adepto de um clube, mas de vários. Hoje, quando pego num jornal, à segunda-feira, vejo os resultados do Portimonense, do Belenenses, do Atlético, do Sp. Espinho, enfim, fiquei com vínculos de amizade por todos os clubes por onde eu passei. Vejo-me como um profissional que defende o seu clube com unhas e dentes e, neste momento, o meu clube é o V. Guimarães. Se surgir uma hipótese de ser director-desportivo, equacionaria essa possibilidade. Para mim, a auto-estrada é o futebol, a minha paixão é o treino, mas tudo terá também a ver com o timing de um eventual convite.

A curto prazo, que metas pretende para si? Quer continuar a treinar o Vitória, mesmo que não suba de divisão, ou pretende dar o salto e treinar equipas do topo?
Carlos Castro - Taipas (Guimarães)

Quando decidi vir para o Norte, não vim viver para um hotel à espera que as coisas corram mal. Eu estou a viver aqui porque quero continuar. Podia estar na Liga, porque tive convites para o fazer, mas preferi correr o risco num grande clube como o V. Guimarães. Quando aceitamos um convite como este, não é para estarmos de passagem e irmos embora. Eu gostava de vingar aqui, porque francamente sinto-me muito bem em Guimarães! Não concebo não subir de divisão…


Os treinadores normalmente não respondem a estas perguntas mas eu tenho a sensação que o Norton de Matos vai responder. Gostava de saber o seu top five dos treinadores, a nível mundial? Luís Ritto, Florença-Itália

José Mourinho é o número 1. Conheço-o há muitos anos e tenho que tirar o chapéu àquilo que ele faz e fez e aos resultados que obtém. O percurso dele é fantástico, capaz de meter inveja a qualquer treinador. Depois, tenho o Arsène Wenger como referência. Quem consegue estar dez anos no Arsenal – não só a nível desportivo, mas também económico – tem de ser colocado nesta posição.
Noutro plano, gosto do Fabio Capello, pela sua exigência e forma de trabalhar. Há, ainda, um treinador sul-americano com quem me identifico, apesar de não ter trabalhado com sucesso em Espanha, num clube da II divisão. É o Pekerman…. É um treinador com uma capacidade fora de comum, a nível de organização, de estruturação, de gestão, de liderança. Aprendi muito com ele. Não foi por acaso que ganhou três títulos mundiais nos escalões mais jovens; como também devo ao Carlos Queiroz. Depois, tenho outro treinador, que eventualmente mais influenciou a minha vida: o austríaco Ernst Happel. Foi um treinador que conseguiu ir à final da Liga dos Campeões com três equipas diferentes e que conseguiu estar na final de um Campeonato do Mundo. É um técnico especial e tive a felicidade de ser treinado por ele."

Publicado por Bruno José Ferreira @ 11/08/2006 01:29:00 p.m.,

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